O líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, disse nesta sexta-feira (6), que não tem medo de ser deportado para o país, mesmo após o governo de Nicolás Maduro ter anunciado um mandado de prisão contra ele.
O mandado foi emitido na quinta-feira (6) pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, que disse que também solicitaria um alerta vermelho da Interpol para deportar o opositor.
O anúncio ocorreu poucas horas após a Administração Biden revelar que começará a deportar imigrantes venezuelanos que entrarem ilegalmente nos Estados Unidos, representando uma mudança significativa na política adotada até então.
Até agora, os EUA consideravam a Venezuela “insegura” para o retorno de imigrantes devido à situação política, mas isso mudou à medida que mais imigrantes – muitos deles venezuelanos – cruzaram a fronteira para os Estados Unidos, gerando índices recordes neste ano.
Guaidó disse que não acredita que os dois eventos estejam relacionados. No entanto, comentou que o mandado de prisão contra si é outro sinal de que Maduro está buscando reconhecimento internacional como chefe de Estado da Venezuela.
Falando de Miami, Guaidó também observou que não considera que a crise imigratória envolvendo venezuelanos será resolvida enquanto o presidente Nicolás Maduro permanecer no poder.
“A única coisa em que [Maduro] não discrimina é na repressão. Eles fazem isso contra todos. Claro que quero voltar para a Venezuela, mas pelo menos aqui estou vivo e livre, ao contrário de muitos venezuelanos que estão atrás das grades ou foram assassinados pela ditadura”.
“Os venezuelanos vão para Nova York por desespero, por falta de oportunidades, e isso acontece na Venezuela todos os dias. Eles não vão resolver a situação da imigração só porque param a migração ou conectam voos. Precisamos acabar com o regime e recuperar os direitos na Venezuela”, avaliou Guaidó.
“A única coisa que Maduro procura é o reconhecimento, e mesmo estes voos de deportação vão ser apresentados como um reconhecimento de fato do seu regime. É isso que ele obtém com isto. Mas todos sabemos que esta nova política não é uma solução para a crise imigratória: a crise é vista em Nova York, mas suas raízes estão na Venezuela”.
“Nunca esperamos que os imigrantes venezuelanos chegassem aos Estados Unidos diretamente, a pé, vindos da Venezuela. São milhares de quilômetros de desespero pela selva. Mas precisamos mudar a situação na Venezuela, devolver a democracia ao país, se quisermos resolver a crise da imigração”, observou.
Guaidó foi presidente da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2019 e 2023 e foi reconhecido pelos Estados Unidos e por mais de 50 outros países como o legítimo chefe de Estado da Venezuela.
Depois de deixar o país, em abril, ele agora mora com a família em Miami, onde é pesquisador sênior da Florida International University. Um porta-voz de Guaidó havia dito anteriormente que o líder recebeu asilo político quando se mudou para os Estados Unidos.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 7,5 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos em busca de melhores oportunidades econômicas no exterior, a maior diáspora migrante no Hemisfério Ocidental.
Embora a maioria destes imigrantes viva em outros países da América do Sul, nos últimos meses um número crescente mudou-se para o norte, para a fronteira sul dos Estados Unidos, pressionando ainda mais as instalações nas fronteiras.