Taylor Swift pôs para dançar um grupo formado por pouco mais de 30 pessoas, no último fim de semana, numa rua próxima à Pedra do Sal, ponto turístico no Rio de Janeiro conhecido como o berço da cultura negra na cidade.
A cena era a seguinte: enquanto um aparelho reproduzia, em alto e bom som, a música "Blank space" — um dos hits da americana de 33 anos que fará shows no Brasil, em novembro —, uma turma de jovens se movimentava de maneira coreografada, como num baile de passinho, sobre os paralelepípedos. Pois bem, um registro em vídeo desse momento caiu na internet, viralizou e... Impulsionou uma discussão acalorada nas redes sociais.
Mas por quê?Para alguns cariocas e frequentadores do endereço histórico, a tal cena — aparentemente corriqueira num espaço que é palco para festas na rua, sobretudo aos fins de semana — é reflexo de um processo de "gentrificação" na Zona Portuária do Rio de Janeiro, território também conhecido como Pequena África, onde a comunidade afro-brasileira se consolidou.
Na visão de estudiosos do tema, o fenômeno da "gentrificação" — um neologismo criado a partir da palavra em inglês "gentry", que designa "pequena nobreza" — ocorre no momento em que a valorização de determinados lugares, como um bairro ou uma região específica de uma cidade, empurra os moradores tradicionais para locais mais distantes devido ao aumento do custo de vida, substituindo-os por outros de maior poder aquisitivo.
É essa a base da reclamação daqueles que vem lançando um olhar crítico para os passinhos pop, embalados pela música de Taylor Swift e despretensiosamente coreografados por jovens numa rua bem próxima à Pedra do Sal. "O Rio de Janeiro acabou! A Pequena África virou um lugar repleto de maldições e péssimos costumes. A cultura popular precisa recuperar o ambiente e torná-lo novamente a voz do samba. É dever ético, civil e moral ser contra essa patifaria", comentou um internauta, por meio do Twitter.
Precisamos falar sobre o processo de embranquecimento do samba na Pedra do Sal", tuitou outra pessoa, ao falar sobre o tema. "Inacreditável o sacrilégio realizado no lugar de nascimento da maior manifestação da cultura popular brasileira, local que um dia foi território de Tia Ciata, Heitor dos Prazeres, Pixinguinha, Donga e tantos outros", escreveu outro internauta.
Do outro lado, parte dos usuários de redes sociais achou exagerado o debate — e a utilização de termos como "embranquecimento" e "gentrificação". "Parabéns, vocês acabaram de descobrir a globalização", ironizou um internauta. Outra pessoas lembraram que os arredores da Pedra do Sal sempre foram marcados por uma profusão de ritmos que ecoam de caixas de som instaladas em bares e carroças de vendedores ambulantes.
A rua dos botecos sempre tocou de tudo, inclusive um pagode antes do baile. Isso é papo de quem nem pisa/nunca pisou numa noite de Pedra do Sal", comentou um internauta. Outra jovem, que afirma que estava no local no momento em que o fato aconteceu, diz: "Esse rolê era um pós-ensaio do bloco que faço parte. Era literalmente uma gastada de onda no DJ, que àquela altura já tinha tocado É o Tchan, Katy Perry e Ne-yo. Do nada viramos a origem da gentrificaçao da Pequena África".