Fiel ao perfil combativo que mostrou na campanha de 2023, o presidente da Argentina, Javier Milei, construiu um estilo de governar sustentado em conflitos permanentes. Sem poder mostrar, ainda, resultados positivos em termos de recuperação da economia — com uma projeção de queda do PIB de 2,8% para este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) —, Milei mantém um nível elevado de apoio popular, que oscila entre 48% e 55%, dependendo da pesquisa, essencialmente em base ao engajamento de seus eleitores nas disputas com setores e lideranças que questionam o governo.
Com este pano de fundo, o chefe de Estado fará nesta sexta-feira seu primeiro discurso anual de abertura das sessões legislativas no Congresso que, pela primeira vez, será às 21h e não ao meio-dia, como foi praxe em todos os governos argentinos desde a redemocratização do país, em 1983.
Nas últimas semanas, os conflitos se multiplicaram. No final de janeiro, por exemplo, a Confederação Geral de Trabalhadores (CGT) convocou a primeira greve geral contra Milei e, segundo pesquisas, mais de 50% dos argentinos se opuseram à paralisação.
Todas as semanas, movimentos sociais organizam manifestações para protestar pelo ajuste fiscal brutal implementado pelo Ministério da Economia, em nome da necessidade de alcançar o equilíbrio fiscal. Esse ajuste está implicando cortes de remessas às províncias, o que desencadeou uma briga feroz entre Milei e governadores, inclusive de partidos e alianças da chamada "oposição dialoguista". A queda-de-braço com os governadores já chegou aos tribunais locais.
Milei também protagoniza bate-bocas com artistas e celebridades locais, que questionam os cortes, por exemplo, no orçamento do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa). As frentes de conflito que enfrenta o chefe de Estado argentino incluem, ainda, universidades, setores da Igreja, lideranças no Parlamento e sua própria vice-presidente, Victoria Villarruel (que articula, segundo informações publicadas pela imprensa local, contra Milei nos bastidores).
Diante de um leque de batalhas que acontecem simultaneamente, o presidente argentino usa e abusa das redes sociais para atacar seus rivais. A mais ativa delas é a rede X (ex-Twitter), na qual Milei, pessoalmente, interage dezenas de vezes por dia.