Um relatório elaborado pela polícia italiana traz novos elementos sobre as supostas agressões contra a família do ministro Alexandre de Moraes, no aeroporto de Roma, em julho deste ano. Enquanto a Polícia Federal brasileira fala em “hostilidade”, as investigações na polícia italiana citam “leve impacto”.
Na ocasião, o filho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) foi atingido no rosto. A conclusão da Polizia di Stato foi enviada às autoridades brasileiras em 11 de agosto. O documento afirma que o empresário Roberto Mantovani ‘utilizou o braço direito, impactando levemente os óculos de Alexandre Barci de Moraes”. A documentação reúne também imagens, analisadas por frame.
“Às 18:39:12h, repara-se o único contato físico digno de nota, ocorrido entre Roberto Mantovani e o filho da personalidade. Nessa circunstância, esse último, provavelmente exasperado pelas agressões verbais recebidas, estendia o membro superior esquerdo, passando bem perto da nuca do antagonista, que, ao mesmo tempo, fazia a mesma ação utilizando o braço direito, impactando levemente os óculos de Alexandre Barci de Moraes”, aponta relatório.
“É evidente a reação verbal de Barci que, saindo da fila da aceitação ao lounge, interage verbalmente com os dois, permanecendo parado no próprio lugar, trocando várias palavras com Mantovani, que nessa circunstância tinha se aproximado até ficar cara a cara”, conclui. Já o relatório da PF, enviado ao STF em 4 de outubro, afirma que Mantovani “aparentemente” bateu com “hostilidade” no rosto do filho do ministro, Alexandre Barci, que “conseguiu se esquivar parcialmente”.
O relatório analisou cada frame do vídeo e foi tornado público, porém a íntegra das filmagens não foi liberada. A Polícia Federal também afirma que a mulher do empresário, Andreia Munarão, foi quem “provocou” a confusão. “Ela própria, desde que vira o ministro, passou a apresentar uma postura visivelmente hostil, com gestos, projeções corporais e expressões faciais, com aparentes gritos, que levam a concluir ter sido ela a provocadora de toda a confusão”, diz outro trecho do relatório.
Defesa recorre
Com base no relatório da polícia italiana, o advogado que representa a família brasileira pediu à Polícia Federal uma perícia nas imagens, o que não foi feito segundo apurou a CNN junto a peritos da PF. “Dessa forma, considerando a inequívoca contradição existente na análise das imagens feitas pelas polícias federal e italiana, pleiteia-se que todas as imagens recebidas em Cooperação Internacional sejam remetidas ao Instituto Nacional de Criminalística, com vistas a que sejam devidamente periciadas por quem de Direito”, diz a petição enviada à PF no sábado (28).
Após a divulgação do relatório da Polícia Federal sobre as imagens, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), que representa os peritos da PF, divulgou nota afirmando que não houve perícia e que o relato era “parcial”. A situação gerou mal-estar na cúpula da PF. “É preocupante que procedimentos não periciais possam ser recepcionados como se fossem ‘prova pericial’, uma vez que não atendem às premissas legais, como a imparcialidade, suspeição e não ter, obrigatoriamente, qualquer viés de confirmação, que são exigidas dos peritos oficiais de natureza criminal”, declarou a entidade.
Outro lado
“O relatório feito pelas autoridades italianas difere em muito daquele elaborado pelo agente da polícia federal. Inclusive, pela descrição que é feita, Roberto Mantovani Filho é primeiramente tocado em sua nuca por Alexandre Barci de Moraes, momento em que ele levanta o braço, como se numa ação de defesa, resvalando os óculos daquele. Ou seja, fica cada vez mais evidente a necessidade de realização de uma perícia isenta, independente, em todas essas imagens do aeroporto. Só assim saberemos, com segurança, o que de fato aconteceu”, disse à CNN o advogado Ralph Tórtima.
Em nota, a PF disse que as imagens recebidas via cooperação internacional foram ‘devidamente analisadas por equipe de profissionais habilitada para essa atividade, em conjunto com as demais provas colhidas e não há suspeitas quanto a falta de integridade, adulteração ou edição’. “Razão pela qual a perícia é desnecessária”, declarou.
“A Direção-Geral da Polícia Federal reitera sua absoluta confiança em seus profissionais e equipes de investigação e recebeu com surpresa e indignação os questionamentos acerca da integridade do trabalho realizado”, concluiu a PF na nota à CNN.