Centenas de refugiados que deixaram Nagorno-Karabakh chegaram à Armênia neste domingo (24), após a ofensiva militar relâmpago do Azerbaijão contra os separatistas armênios neste disputado enclave.
Erevan criticou implicitamente a Rússia por sua falta de apoio após a vitória das tropas do Azerbaijão, que reivindicaram o controle deste território no Cáucaso.
"Os sistemas de segurança estrangeiros, dos quais a Armênia participa, mostraram-se ineficazes para proteger sua segurança e seus interesses", declarou o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, em um discurso transmitido pela televisão. O premiê fez referência às relações de longa data de seu país com Moscou, herdadas da época em que fazia parte, assim como o vizinho Azerbaijão, da União Soviética.
Apesar disso, a Armênia continua sendo membro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla em inglês), uma aliança militar liderada pela Rússia. Na capital Erevan, a oposição armênia se manifestou na noite deste domingo pela sexto dia consecutivo e acusou o primeiro-ministro do país de "destruir deliberadamente as relações da Armênia com seus parceiros".
Como sinal do impacto internacional desta crise, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, aliado de Baku, reúne-se com seu colega azeri Ilham Aliyev nesta segunda-feira (25). As autoridades de Erevan também confirmaram um encontro previsto entre o premiê armênio e o presidente azeri no próximo mês, na Espanha.
- Primeiros refugiados -
Dezenas de residentes de Nagorno-Karabakh, principalmente mulheres, crianças e idosos, chegaram neste domingo ao centro de acolhida estabelecido pelo governo armênio em Kornidzor, na fronteira entre os dois países. De acordo com o governo da Armênia, 377 "pessoas forçadas a partir" haviam entrado em território armênio até a noite de domingo.
De acordo com a última contagem do Ministério da Defesa da Rússia, 311 civis, incluindo 102 menores de idade, foram escoltados pelas forças de manutenção de paz russas até a Armênia. "O contingente russo de manutenção da paz garante que continua abrigando 715 civis, incluindo 402 crianças", enquanto aguarda uma solução, afirmou o ministério.
As autoridades separatistas haviam anunciado pouco antes que os civis que ficaram desabrigados devido aos últimos confrontos seriam transferidos para a Armênia com o auxílio das forças de manutenção de paz russas. Esse efetivo está no local desde a última guerra em 2020. Baku se comprometeu a permitir que os rebeldes que entregarem suas armas atravessem para a Armênia.
Um homem entrevistado pela AFP em Kornidzor disse que fazia parte da "resistência", até que a ofensiva do Azerbaijão forçou os rebeldes a se entregarem na quarta-feira.
"Nossas famílias estavam nos abrigos. Estávamos no Exército, mas ontem tivemos que deixar nossos rifles. Então partimos", disse ele, enquanto esperava para ser registrado no centro de acolhida. Outros aguardavam notícias de seus familiares. "Meu filho estava no Exército. Ele está vivo, mas me preocupo", contou um homem de 34 anos.
Muitos temem retiradas em massa do enclave, onde vivem cerca de 120 mil pessoas. Cercada pelas tropas de Baku, Stepanakert, "capital" de Nagorno-Karabakh, está há vários dias sem eletricidade, ou combustível. A escassez também se estende aos alimentos e medicamentos, segundo um correspondente da AFP.
Um primeiro comboio de ajuda da Cruz Vermelha conseguiu entrar no enclave neste domingo. No sábado (23), o ministro das Relações Exteriores armênio pediu à ONU o envio "imediato" de uma "missão" da entidade a este disputado território e reforçou as acusações de "limpeza étnica" na região separatista.
Nagorno-Karabakh já foi sacudida por duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, no segundo semestre de 2020, com 6.500 mortos. A recente incursão militar de Baku, que durou cerca de 24 horas, deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos, segundo os separatistas armênios.