Quis o destino que um clube tricampeão do mundo e da América e hexacampeão brasileiro ficasse tanto tempo tendo a Copa do Brasil como principal lacuna em sua sala de troféus. Quis o destino também que essa agonia e o jejum de 15 anos sem títulos nacionais fossem encerrados ontem, no empate em 1 a 1 com o Flamengo no Morumbi.
E com dois ídolos do São Paulo comandando uma geração resiliente da base. Menos de dois meses depois do anúncio de seu retorno, Lucas colocou no peito a tão desejada medalha pelo clube que o revelou. Em campo, foi às lágrimas. Estou vivendo um sonho, literalmente. Por tudo que envolveu minha volta, a mobilização da torcida nas redes sociais, até alguns jogadores mandando mensagens para mim. O São Paulo é sentimento, está na minha pele, fui formado no clube, subi com 17 anos, agora estou com 31, careca e com dois filhos, aguentando a molecada me zoando já — disse o atacante ao SporTV.
Além de Lucas, que já tinha sido campeão da Sul-Americana de 2012 com a camisa tricolor, o atacante Jonathan Calleri é outro a colocar de vez seu nome na galeria do clube. Adicionou mais um capítulo de uma história particular de amor: o autor do gol da vitória na primeira partida da final, no Maracanã, conquista seu primeiro troféu com o tricolor, uma antiga obsessão.
Mesmo quando passou cinco anos atuando na Europa, Calleri nunca escondeu a vontade de voltar a atuar pelo São Paulo, realizada em 2021. No ano seguinte, ele sofreu um duro golpe com o vice-campeonato da Sul-Americana, contra o Independiente del Valle. Agora, aos 30 anos, pode enfim comemorar. Sempre tento dar 100%. Às vezes, não consigo jogar bem, mas sou um cara que se entrega por essa camisa.
Hoje (ontem), a gente conseguiu algo muito merecido — afirmou o camisa 9, autor de 12 gols e seis assistências nesta temporada. Ele também defendeu o grupo de críticas e cobranças. O São Paulo vence a Copa do Brasil com campanha que não deixa brecha para dúvidas: no caminho até a final, derrubou os rivais Palmeiras e Corinthians, vencendo três dos quatro clássicos. Antes, ainda eliminou Ituano e fez confronto duríssimo com o Sport.
Dorival desabafa
Ontem, o Flamengo fez bom jogo e endureceu a partida. Mais incisivo com a volta de Arrascaeta, o rubro-negro pressionou o tricolor em seu campo e chegou a abrir o placar com Bruno Henrique, melhor jogador da equipe nesse caótico segundo semestre. Mas Rodrigo Nestor, tão criticado pela torcida tricolor, empatou poucos minutos depois, num belo chute de fora da área, aproveitando o goleiro Rossi adiantado após sair para afastar uma cobrança de falta.
Nestor faz parte de uma geração de crias de Cotia, como Pablo Maia, Welington, Juan e até o mais jovem, Beraldo, que foram resilientes em meio às cobranças de um clube que se viu em ebulição no início deste ano. O técnico Dorival Júnior, que assumiu em abril o desafio de reconstruir o vestiário e o espírito competitivo após a saída do ídolo Rogério Ceni, desabafou depois da conquista.
Ele relembrou a saída turbulenta do próprio Flamengo no fim do ano passado, logo depois de conquistar a Libertadores e a Copa do Brasil. Só eu, minha família e amigos entendemos toda a situação. É natural que eu tenha ficado chateado, mas jamais levei para o lado pessoal. Sempre soube separar muito bem.
Não tinha um espírito de revanche em sentido nenhum da palavra — iniciou o treinador, antes de rebater críticas da época: Quando ganhamos as competições, diziam que era “arroz com feijão” e que qualquer um faria igual com o elenco do Flamengo. Um mês depois, quando aquela equipe não conseguiu os resultados, (disseram que) precisava de reforços. Estranhei aquelas atitudes, colocações. Trinta dias atrás diziam ser o melhor elenco da América e que ganharia todas as competições.